De viagem marcada para NY, tive um pesadelo: chegava no aeroporto e não encontrava meu passaporte. Acordei, me certifiquei de que o passaporte estava no mesmo lugar de sempre, e achei que o sonho não tinha sido presságio de nada.
Até que ontem, véspera da minha viagem, resolvi pegar o passaporte e colocar na bolsa. Foi então que me dei conta de que este era o meu passaporte novo, mas que o visto para os EUA estava no passaporte antigo (e, quando é assim, você precisa levar os dois, claro). Mas e o passaporte antigo, onde estaria?
São sacolas de brinquedos pra dar (ou vender?), fios, manuais que nunca consultei, materiais de arte que não uso, carregadores de equipamentos que nem tenho mais, jogos, quebra-cabeças de 2 ou 3 mil peças que nunca mais vou ter saco pra montar, coisas que vieram da casa dos meus avós, papeladas intermináveis tanto do escritório quanto da empresa onde trabalhei, contas pagas dos últimos mil anos, documentos importantes embolados com mala-direta de todo tipo de produto, enfim, um verdadeiro pandemônio.
Entrei em desespero. Embora eu já tenha começado um processo de desapego imenso e irreversível, esse é justo o quarto onde eu to “processando” as coisas antes da doação, e como diabos eu ia achar um passaporte velho no meio de tanta coisa?
Eu ia perder uma viagem por causa da tralha?
Prometi pra mim mesma que, se encontrasse o passaporte, ia doar ou jogar fora tudo dentro daquele quarto, à exceção do minimamente necessário. Depois de meia hora procurando, encontrei o passaporte, numa pilha de papéis e envelopes cheios de documentos importantes.
O desespero que passei ontem por causa do excesso de coisas na minha casa foi como se o universo me desse um peteleco na testa e me lembrasse que eu ainda tenho um trabalho enorme pela frente e não posso esmorecer nem muito menos parar.
Vou viajar hoje mas, quando voltar, a primeira coisa que vou fazer é esvaziar este quarto. Porque eu quero ter uma casa em que não tenha nada além do necessário, e quero saber o exato lugar onde está cada coisa.