Se teve um ano da minha vida em que eu fui verdadeiramente minimalista foi entre julho de 2006 e 2007. De mudança por um ano pra NY, prestes a sair de um apartamento de 3 quartos para um “studio” (a.k.a. kitinete), viajei com 2 malas pra passar um ano.
Não cheguei lá e comprei tudo de novo, até porque estava pagando parte da faculdade e todas as despesas de moradia de dois adultos, em dólar, numa das cidades mais caras do mundo. Meu orçamento era apertado e, salvo umas pequenas coisinhas, eu vivi MESMO com o que eu levei.
E vivi maravilhosamente bem. Enquanto minhas “coisas” me esperavam quietinhas num guarda-móveis no Rio de Janeiro, eu me divertia por Nova York sem nunca pensar nelas. Nunca.
E sabe por que eu me divertia por Nova York? Porque no meu kitinete não tinha nada. Em termos de diversão, tirando uma pequena tv, meu kitinete era um lugar pra ir dormir. A cidade era a minha casa. Os cinemas, os diners, os restaurantes exóticos, o parque, as longas caminhadas, os cafés, as livrarias, a faculdade (preferia ficar lá de 8 à meia-noite estudando, já nem trazia os livros pra casa).
Talvez, se eu tivesse um projetor ou um mega telão em casa, uma super cozinha, uma Nespresso, um escritório sossegado em casa, eu não tivesse em um ano passeado tanto por Nova York, conhecido tantos lugares e feito tantos amigos.
Muita gente critica o minimalismo dizendo que uma casa minimalista é muito sem graça. Mas a grande verdade é que quando vc tem pouca coisa em casa, vc sente mais vontade de ir pra rua se divertir.
Em Nova York, eu muitas vezes saí do meu kitinete sob neve e a temperaturas de até 25 graus negativos pra ir ao cinema ou à livraria, ou pra comer uma fatia de cheesecake. Aqui no Rio, ao contrário, eu já passei dias lindos de sol sem nuvem alguma no céu e clima agradável sentada no meu sofá lendo um dos meus milhares de livros, já deixei de sair pra tomar um vinho com amigos porque minha maldita adega estava cheia, já troquei uma caminhada numa cidade linda por assistir um filme em casa.
Claro que não quero que a minha casa seja um lugar inóspito e desconfortável onde eu não queira ficar, mas confesso que cada vez mais me encanta trazer para o Rio o meu estilo de vida daquele ano em Nova York – que bem ou mal é o mesmo de quando estamos viajando – de querer explorar a cidade, ver gente, fazer amigos, experimentar novas comidas, conhecer novos lugares, fazer coisas novas pela primeira vez.
Há um mundo inteirinho lá fora e eu não quero ficar aqui abraçada na minha adega.