Ontem conversando com um motorista sobre o trânsito, os engarrafamentos e minha escolha recente por não ter mais carro e andar de bike, metrô, ônibus e esse equipamento super moderno, portátil e tecnológico que são os meus pés, me dei conta de que um dos grandes problemas do mundo hoje é que o ser humano perdeu a arte de se perguntar.
Eu ponho a culpa na velocidade estúpida do mundo, na sensação que a gente tem o tempo todo de que está perdendo tempo com alguma coisa que nem sabe o quê, e nessa coisinha tão confortável que é a inércia, o go with the flow.
(não vou falar em poluição porque confesso – envergonhada – que num primeiro momento nem pensei nisso, mas fica aí mais um ponto para se pensar)
Cinco minutos de reflexão, decisão tomada com consciência, alinhada com as minhas crenças, meus valores, meu estilo de vida, minha necessidade, meu orçamento, minha realidade. Olha que joia.
Aí esse motorista me deixou no Projac, onde eu gravei (ontem) o piloto do programa da Fátima Bernardes e falei sobre adoção. E, conversando com as pessoas por lá sobre por quê eu escolhi adotar já que poderia ter engravidado, me veio à mente de novo a questão da arte perdida de se perguntar. Eu me perguntei, há mais ou menos 4 anos: faço questão de engravidar? Parir? Amamentar? O que é ser mãe pra mim, afinal? É isso? O que é um valor maior pra mim?
Mais uma vez, decisão tomada com consciência, alinhada com as minhas crenças, meus valores, meu estilo de vida, minha necessidade, meu orçamento, minha realidade. Alouco, hã?
Se tenho curiosidade de engravidar? Olha, tenho curiosidade de milhares de coisas nessa vida, muitas delas coisas que certamente jamais farei, como pular de pára-quedas, andar na Lua ou transar com o Colin Firth. Bom, vou corrigir pra ‘provavelmente’ jamais farei porque né, ainda tenho alguma esperança com o Colin Firth. Mas é isso, só curiosidade, e ao contrário do ditado, não mata não.
Quem tem – ou quer ter – filho biológico pode também se perguntar se não tem curiosidade de receber um telefonema no meio da tarde falando de uma criança, ir num abrigo, pegar essa criança nos braços e sentir a indescritível sensação de saber que É o seu filho.
Acredito a sério que muita gente ao se perguntar: por quê não adotar?, se surpreenderia com a resposta. Falta só parar aqueles cinco minutinhos pra uma reflexão.
E quanto mais eu penso – desde ontem – mais eu vejo que isso se aplica a tudo que eu venho mudando na minha vida pra ter uma vida melhor. Desapegar de um mundo de tralha que tenho em casa? A arte perdida de se perguntar: eu preciso mesmo ter isso? Comer bem, me exercitar, cuidar de mim? A arte perdida de se perguntar: é isso que eu quero pra minha vida, pro meu corpo? (em especial quando estiver no caixa da padaria com cinco pacotes de baconzitos).
Vamos resgatar a arte perdida de se perguntar.