Na semana da São Paulo Fashion Week, uma matéria da TV Folha mostrou o lado nada glamouroso da moda: os trabalhadores que a produzem, em condições sub-humanas e em regime de semi-escravidão.
Fora o fato de contribuirmos com esse cenário a cada vez que consumimos sem saber a origem daquilo que compramos – especialmente quando consumimos aquilo de que nem sequer precisamos –, sabemos de outras tantas consequências negativas do consumo desenfreado, dentre elas o endividamento.
Mas, se sabemos de todos esses malefícios, por que consumimos tanto?
Há quase um ano, decidi por uma vida mais simples e me declarei minimalista. De lá para cá, consumi muito pouco, somente aquilo que era verdadeiramente necessário. Me mudei para um apartamento da metade do tamanho do anterior, vendi ou doei metade dos meus móveis, roupas, sapatos e eletrodomésticos, e embora ainda tenha muito trabalho pela frente para conseguir destralhar totalmente a minha casa, me sinto hoje muito mais leve do que há um ano.
Mas nem sempre fui assim. Por muitos anos, fui extremamente consumista. Vivia pensando no próximo objeto de desejo, comprava por impulso, gastava muito mais do que devia em coisas supérfluas que não traziam qualquer benefício. Muito pelo contrário, muitas vezes a única sensação que restava depois da compra era a culpa e um tremendo mal-estar.
Neste ano de pouquíssimo consumo, tenho refletido muito sobre o que me levou àquele grau de loucura e identifiquei algumas das causas.
* Tédio – Muitas vezes a gente não tem o que fazer e, em vez de buscar entretenimento, cultura e convívio social com os amigos e família, se enfia no shopping. Eu sempre digo que passear no shopping não é hobby e, se você não tem um, está na hora de procurar.
* Depressão – Nunca tive depressão no sentido médico do termo, mas todos nós passamos na vida por momentos de baixa por conta de eventos externos estressantes. A compra, especialmente a compra de impulso, dá um barato semelhante ao das drogas e, muitas vezes, recorremos a esse barato para fugir dos problemas. Existem formas bem mais eficazes de se reduzir o estresse. Além disso, por experiência própria eu sei que o barato da compra de impulso passa muito, muito rápido mesmo. E, depois, a tristeza volta ainda mais forte.
* Solidão – Muitas vezes, o passeio no shopping é a nossa forma de “ver gente”, conversar sobre amenidades com as atendentes das lojas e as pessoas nas filas. Naturalmente, o jeito mais saudável de se resolver a solidão é interagir com nossos amigos e familiares, e não com estranhos na rua. Mas, nas relações reais, precisamos estar abertos a ouvir o outro, receber críticas e participar de uma verdadeira troca de emoções. Se você foge disso e opta por relações superficiais – e consumo –, é hora de parar e refletir.
* Baixa auto-estima – Um estudo do Serviço de Proteção ao Crédito (SPC) divulgado essa semana concluiu que a insatisfação com a própria aparência é um dos grandes motivos que levam as pessoas a comprar coisas de que não precisam e se endividar. E é verdade. Quantas vezes comprei milhares de roupas, sapatos, bolsas, joias, maquiagem e saí de casa me sentindo feia e sem graça… E, depois da minha opção por uma vida mais simples e de estar feliz e realizada fazendo o que amo, já saí de casa até de camiseta, calcinha e havaianas me sentindo maravilhosa!
* Pressão social – Muitas vezes a gente consome aquilo que nem quer e de que nem precisa – e cujo preço mal podemos pagar – porque queremos impressionar alguém. Em geral, não é um alguém específico, mas o meio em que estamos inseridos. Se pararmos para refletir, percebemos que na maioria das vezes a gente nem sequer admira essas pessoas a quem a gente tanto quer impressionar. Então por que isso acontece? De novo, creio que é porque não estamos plenamente confortáveis com quem somos. E consumir não vai resolver esse problema.
* Compensação/vingança – Conheço um monte de gente – e eu já estive nesse grupo – que consome indiscriminadamente porque está oprimida dentro de um relacionamento com um parceiro que cerceia a liberdade, que controla exageradamente, que é possessivo demais. Gastar o dinheiro “do casal” é, nesses casos, uma forma de mini-vingança contra o parceiro que é visto como vilão.
É fácil ver que, em nenhum dos casos que mencionei, o consumo desenfreado vai solucionar a verdadeira causa por trás do comportamento. Hoje, consumindo apenas o necessário, dentre muitos outros benefícios, eu me sinto muito mais tranquila, emponderada (não existe mais aquela coisa que “é mais forte do que eu”, EU sou mais forte!), relaxada.
E você, quais são os seus motivos para comprar mais do que o necessário?