“As crianças não precisam de mais atividades, nem mais brinquedos, nem mais livros, nem mais canais de tevê. As crianças precisam de tempo – não me canso de falar desse bem tão precioso e não-renovável. Tempo pra ficar sozinhas, tempo pra refletir sobre suas dúvidas, suas emoções, suas dificuldades, tempo pra encontrar suas próprias soluções. […]
Recentemente, na praia, fechei os olhos e fiquei um tempo em silêncio, meditando. Quando terminei, abri os olhos e me dei conta de uma coisa: fazia anos que não meditava. Por um simples motivo: não tinha tempo. Eu comprava livros e mais livros de meditação, procurava meditações específicas pra ocidentais-com-vidas-corridas-e-sem-tempo-pra-meditar. Eram meditações de cinco minutos. […]
Desde que comecei a falar e escrever sobre minimalismo e desapego, várias pessoas me perguntaram como implementar essa filosofia de vida se você tem filhos. Acho que a questão da simplicidade, quando vista sob o foco dos filhos e da infância, é muito maior do que somente jogar brinquedos fora. As pessoas hoje querem que seus […]
Desde que comecei a falar e escrever sobre minimalismo e desapego, várias pessoas me perguntaram como implementar essa filosofia de vida se você tem filhos. Acho que a questão da simplicidade, quando vista sob o foco dos filhos e da infância, é muito maior do que somente jogar brinquedos fora.
As pessoas hoje querem que seus filhos tenham sucesso e, como ninguém sabe muito bem o que é sucesso – porque ninguém para e se questiona -, colocam os filhos pra fazer mil e uma atividades: inglês, espanhol, natação, balé, jazz, capoeira, judô. Nas (poucas) horas vagas, marcam playdates com os amigos.
As crianças têm mais atividades do que conseguem dar conta, mais brinquedos do que conseguem administrar, mais livros do que conseguem ler, mais desenhos pra assistir na TV do que conseguem acompanhar.
Quando lembro da minha infância, sempre me divirto com lembranças das minhas muitas brincadeiras inventadas, da minha incontrolável criatividade. Eu fazia desenhos e saía vendendo pros vizinhos (e voltava pra casa cheia de dinheiro, para espanto da minha mãe), criava peças de teatro que encenava com os amigos do prédio e vendia ingressos para as crianças do bairro, escrevia livros, desenhava as capas, construía cabanas.
Tudo isso nascia do tédio. Do nada-pra-fazer. De sentar na escada da casa dos meus avós com um copo cheio de água com detergente e um canudo e, depois de uma hora, me cansar de fazer bolha de sabão.
Criar minhas próprias histórias, minhas brincadeiras, meus livros, minhas peças, tudo isso era bom pra minha auto-estima, eu me sentia super poderosa, capaz de criar coisas do nada, de me entreter e entreter meus amigos.
A gente tem hoje a sensação de que as crianças já nascem mais espertas, sabendo mais, que crescem e se desenvolvem muito rápido, que viram adolescentes com 10 anos de idade, mas somos nós que estamos causando isso. Nós estamos matando a infância.
Estamos gerando adolescentes e jovens que não conseguem parar cinco minutos para pensar na resposta de uma questão ou problema: correm para o Google – vi isso em muitos estagiários meus.
Pior: sem poder explorar mundos desconhecidos, criar suas próprias brincadeiras e brinquedos, inventar suas próprias atividades, as crianças perdem também a oportunidade de descobrir quais são as suas verdadeiras paixões. E é daí que surgem os adolescentes que não sabem o que querem fazer da vida: de uma infância em que nunca se teve a chance e a permissão de se experimentar.
As crianças não precisam de mais atividades, nem mais brinquedos, nem mais livros, nem mais canais de tevê. As crianças precisam de tempo – não me canso de falar desse bem tão precioso e não-renovável. Tempo pra ficar sozinhas, tempo pra refletir sobre suas dúvidas, suas emoções, suas dificuldades, tempo pra encontrar suas próprias soluções. As crianças precisam de mais tédio. Depois de dez, vinte minutos de tédio, acredite, elas vão ser criativas, inovadoras, vão encontrar algo pra fazer.
E isso vai fazer delas “bem sucedidas” não só no sentido mais prático – e talvez besta – de passar no vestibular ou arrumar um emprego, mas num sentido mais profundo, de ter valores melhores, ser pessoas melhores, ser melhores pais e mães, ser mais felizes.
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