Li esse texto por conta do comentário de uma leitora que me citou por lá, dizendo “Sorte a da Paula Abreu que não precisou se mudar para fora do país pra descobrir que é possível ter uma vida simples.” O texto é antigo — de 2011 — mas acho que continua bastante atual e, ao […]
Li esse texto por conta do comentário de uma leitora que me citou por lá, dizendo “Sorte a da Paula Abreu que não precisou se mudar para fora do país pra descobrir que é possível ter uma vida simples.”
O texto é antigo — de 2011 — mas acho que continua bastante atual e, ao ler sobre a experiência da autora — que não tem vontade de voltar ao Brasil por conta de todos os problemas do país –, comecei a pensar na minha própria.
Entre 2006 e 2007 eu morei por um ano em Nova York, onde fiz o meu mestrado. No final do curso, a grande pergunta entre os mais de 200 alunos da minha turma, gente de praticamente todo canto do mundo, era: “e aí, você vai ficar ou vai voltar pro seu país?”
Como todos os brasileiros, comecei a fazer algumas entrevistas de emprego. Ainda não tinha certeza do que decidiria.
Até que um dia assisti a uma palestra de uma grande advogada argentina, dona de um dos grandes escritórios por lá. Ela também tinha feito mestrado na Columbia e tinha passado por aquela mesma dúvida.
Perguntada pela plateia por que ela tinha decidido voltar pra Argentina, ela disse:
Uma das maiores lições de vida, negócios, empreendedorismo e liderança que eu já recebi.
Num balaio de milhares de candidatos do mundo todo, todos eles muito bem sucedidos acadêmica e profissionalmente, ser um dos 220 escolhidos pra estar naquela turma dizia pelo menos uma coisa, nas palavras da própria Reitora: as pessoas encarregadas de fazer a seleção viam nos escolhidos tanto uma imensa capacidade de liderança quanto um potencial de retornar aos seus países de origem e ter um impacto positivo.
A autora do texto fala que “no nosso país falta segurança, falta educação e saúde pública, falta tolerância, falta tanta coisa” (…). E ela está certa. No nosso país falta muita, muita coisa mesmo. Como, aliás, falta em quase todo lugar do mundo, exceto em uma meia-dúzia de lugares.
(a título de curiosidade, porque a felicidade e seus elementos não é o objeto desse texto, vale dizer que a Holanda, por exemplo, que foi o 22o país do mundo no Índice de Desenvolvimento Humano da ONU de 2011, tem uma qualificação ainda melhor – 10o lugar – no top 10 dos países com maior número de suicídios).
Falta educação no Brasil? Falta. Em 1995, o empresário carioca Flavio Augusto (recomendo fortemente a leitura da página dele no Facebook), aos 23 anos, fundou a rede de escolas de inglês Wise Up, com R$20 mil do seu cheque especial, a juros de 12% ao mês.
Em 2013, Flavio vendeu o controle da Wise Up para a Abril Educação por R$877 milhões de reais e se tornou com isso o terceiro maior acionista do grupo. Em seguida, comprou o Orlando City, um time americano que disputa a terceira liga mais importante do país, a United Soccer League (USL). A meta dele é levar o time à MLS, que é o principal campeonato americano. Para isso, dentre outras coisas, está construindo um estádio de futebol cujo custo estimado é de mais de USD200 milhões.
A história do Flavio Augusto, como a de muitos outros brasileiros, mostra que mais do que educação, saúde pública, tolerância e yada yada, o que falta no Brasil mesmo é visão. Falta otimismo. Falta liderança. Falta empreendedorismo. Falta olhar pras falhas do país e ver as necessidades não atendidas, as imensas oportunidades que elas são. Falta olhar pros problemas e se perguntar: e então, o que eu posso fazer pra melhorar isso?
(dica: não é mudar pro exterior)
Morar fora é bom, claro. Dependendo do lugar, é ótimo. Mas em termos de experiência — pelo menos no sentido descrito pela autora do texto — é o mesmo que você, que nasceu e cresceu classe média ou alta, sair da casa da mamãe e ir fazer faculdade em outra região do país, ou mesmo ir morar sozinho em um kitinete e descobrir que — *surprise surprise!* — o algodão e o papel higiênico não nascem por geração espontânea no banheiro (ah, esqueci, só pode morar em kitinete no exterior, porque lá é cool, mas aqui é mico…).
Todas as lições que a autora teve no exterior podem ser aprendidas no Brasil ou em qualquer outro lugar do mundo – e ela mesma deixa isso claro no final do texto. Da mesma forma que alguém pode continuar ignorante desses conhecimentos em qualquer outro lugar do mundo.
Eu mesma, quando morei em Nova York em um kitinete que eu mesma limpava, e passei um ano sem ter carro e sem comer carne vermelha porque era caro, até aprendi algumas coisas, mas nada que tenha mudado a minha vida radicalmente naquela época.
De volta ao Brasil, saí dos meus 40m2 em Manhatan para uma cobertura de 280m2 e dois andares em São Paulo, retomei meu hábito ignorante de andar de carro pra todo lado e, depois de um ano vivendo com um orçamento apertado, voltei a pautar a minha felicidade na compra de supérfluos que hoje teria até vergonha de confessar.
Só vim a realmente aprender o valor da simplicidade em 2012, quando me dei conta de que todas aquelas conquistas materiais não me traziam felicidade.
As grandes lições a gente aprende quando está aberto a aprender, a crescer, quando é o momento, quando elas nos chegam de forma impactante, quando mudam a nossa vida.
Como muitos dos meus amigos, eu poderia ter ficado em Nova York. Mas preferi seguir o meu coração e voltar pro Brasil, porque eu sabia que aqui eu era mais necessária. Porque aqui eu podia ter um impacto maior. Porque aqui eu podia ser um instrumento de mudança pra melhor.
Podia terminar esse texto falando mal de quem não tem esse tipo de visão, não enxerga as oportunidades que estão diante do nariz e só sabe reclamar dos problemas, dos outros e da vida.
Mas quando eu olho pra essas pessoas, a quem falta visão, liderança, empreendedorismo, otimismo, a quem “falta tanta coisa”, o que eu vejo é…
adivinhem?
…oportunidade!
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