Escolha sua vida | Paula Abreu

Eu não sou cachorro não

No comecinho do século XX, um médico russo chamado Ivan Pavlov queria descobrir o que causava a salivação e começou a fazer experimentos com cachorros. Toda vez que ele alimentava os cachorros, ele tocava uma sineta. O sistema digestivo dos cachorros, ao ver a comida, tinha o reflexo natural de começar a funcionar. E, então, […]

No comecinho do século XX, um médico russo chamado Ivan Pavlov queria descobrir o que causava a salivação e começou a fazer experimentos com cachorros. Toda vez que ele alimentava os cachorros, ele tocava uma sineta. O sistema digestivo dos cachorros, ao ver a comida, tinha o reflexo natural de começar a funcionar. E, então, eles começavam a salivar.

Com o tempo, o reflexo dos cachorros se condicionou e, ao ouvir a sineta, mesmo que não tivesse nenhuma comida no prato, eles salivavam.

O ser humano tem uma série de reflexos condicionados que são “de fábrica”, ou seja, a gente já nasce com eles. Por exemplo, como eu falo em mais detalhe no meu livro, existe uma área do nosso cérebro chamada amígdala – ou cérebro réptil – que detona uma série de reflexos pra nos defender em situações que ela reconhece como sendo de perigo.

Além desses reflexos “de fábrica”, a gente ao logo da vida vai criando novos reflexos condicionados baseados nas nossas experiências.

Numa noite da minha viagem pra Grécia, eu pedi uma pizza no meu quarto do hotel. Tive uma intoxicação alimentar braba e passei a noite inteira muito mal. Nos próximos dois dias só conseguia comer frutas e cream craker.

Demorei quase um mês pra ter coragem de comer uma pizza de novo. Durante esse mês, o mero cheiro da pizza me dava arrepios.

Esse é um exemplo simples, mas que acontece com quase todo mundo alguma vez na vida, ou com algum tipo de comida específico. E tem uma consequência bem física.

Mas esse tipo de condicionamento também ocorre com relação às experiências que a gente tem na vida, e as consequências são mais sutis, mas muito mais prejudiciais.

Pode ser que uma vez, na escola ou na faculdade, você tenha feito uma apresentação que não deu muito certo, e hoje em dia você foge de qualquer oportunidade de falar em público. O que te faz perder oportunidades profissionais, talvez.

Ou pode ser que você tenha sofrido uma desilusão amorosa e, agora, acredite que “todos os homens/mulheres são iguais/não prestam”. O que te faz perder a oportunidade de ter relacionamentos saudáveis.

Pode ser, também, que algum amigo tenha traído a sua confiança e, hoje, você pense que “não tem gente honesta no mundo”. O que te faz perder a oportunidade de conhecer pessoas incríveis.

Esse condicionamento também pode vir de fora da gente.

Por exemplo, se você cresceu em uma casa onde todas as mulheres eram divorciadas, desiludidas, tristes, solitárias e amarguradas, e colocavam toda a responsabilidade pelos seus problemas nos ~malditos homens~ que tinham arruinado as vidas delas, é muito possível que você tenha se condicionado a pensar que “homem não presta” (mesmo que a desilusão, nesse caso, nem tenha sido sua!)

Ou se você sempre ouviu na escola, e da sociedade, que dinheiro só se faz por meio de trabalho duro, e você viu seus pais trabalhando duro pelo dinheiro deles, você pode ter se condicionado a pensar que “trabalho e prazer não se misturam” ou que “ninguém ganha dinheiro fazendo o que ama”.

Mas opa, espera aí.

O que nos torna humanos é justamente que, diferente dos cachorros de Pavlov, nós temos uma coisinha chamada…consciência!

Uma das definições de consciência é conhecimento.

O ser humano é o único ser que consegue, com sua autoconsciência (ou autoconhecimento!), reconhecer que a sua mente está condicionada por experiências passadas, ou pela sociedade, pela religião, pelos amigos.

E, com isso, o ser humano consegue, se escolher conscientemente despertar, ir descascando essa cebola e se livrando desse monte de camadas de condicionamentos. Que são aprendizados de outras pessoas, e não seus.

Ou, se são seus, são aprendizados de um outro momento da sua vida que talvez até tenham sido úteis ou importantes lá atrás, mas não são no agora.

Debaixo de todas essas camadas de condicionamentos, adivinha quem você vai encontrar? O seu verdadeiro eu! Uma mente não-condicionada, cheia de potencial, mais ou menos como você era quando criança e podia ser tudo, de astronauta a presidente de Marte.

E, assim como tem gente que descasca cebola debaixo d’água pra não chorar, tem gente que gosta de chorar e tem gente que coloca óculos de natação (cof cof quem será?), tem muitas formas diferentes de descascar essa cebolona que é você. A meditação é uma delas, e vou falar sobre isso em breve.

Mas uma outra que é bem simples e você pode começar hoje mesmo, não requer prática nem tampouco habilidade é…começar a fazer escolhas conscientes!

Eu não sou cachorro não. E você?

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